Esclarecimentos...
Postado Sexta-feira, 25 Abril, 2008 as 10:38 AM pelo Ir:. Angelo Andres Maurin Cortes
Prezados Companheiros,
"uma besteira dita por cinqüenta milhões de pessoas continua uma besteira" - Bertrand Russel
Andou circulando um artigo sobre os Ritos. vamos esclarecer para que os IIR. possam atualizar-se.
O verbete do artigo circula na Internet diz:
York (ou Real Arco): Acredita-se ter sido criado por volta de 1743, foi levado à Inglaterra por volta de 1777, inicialmente composto de 4 graus, hoje possui 13.
Atualmente é o Rito mais difundido no mundo.
Vamos às retificações.
Há alguns senões:
(1) O Rito não se chama de York (ou Real Arco),
(2) não foi criado por volta de 1743, e
(3) nem foi levado à Inglaterra por volta de 1777!
É preciso separar as coisas.
O Real Arco, este sim, apareceu por volta de 1743, provavelmente na Irlanda, onde estão as primeiras referências, embora para muitos a Escócia e a França também sejam possibilidades. O importante a respeito do Real Arco é que ele foi incorporado à Grande Loja dos Antigos, criada em 1751, como parte integrante do ensinamento simbólico.
Nos Estados Unidos, entretanto, para onde a Maçonaria tinha sido carregada no bojo das Lojas militares (as Lojas militares também foram uma invenção da Grande Loja da Irlanda, criadas em 1732), houve gradualmente a separação entre os três Graus iniciais e os subseqüentes, embora as Lojas continuassem a ministrá-los por muito tempo.
A criação da Grande Loja dos Antigos aconteceu quando o Grande Secretário da Primeira Grande Loja (de 1717) esnobou solenemente Maçons irlandeses que tentaram ser admitidos lá. Logicamente chateados, resolveram criar sua própria Grande Loja. E, aproveitando o descontentamento das mudanças efetuadas vinte anos antes, como conseqüência da publicação da primeira grande inconfidência, o livro Maçonaria Dissecada, de Samuel Prichard, desfizeram as modificações em seus rituais (ainda não impressos, é claro!) e espalharam aos quatro ventos que a deles era a verdadeira e original Maçonaria. Foi aí que se autodenominaram de Antigos e, pejorativamente, chamaram de Modernos (os 'moderninhos'!) aos Maçons da Grande Loja de 1717.
Essa rivalidade seria levada a extremos pelo Grande Secretário Laurence Dermott. E foi ele que declarou ser o Real Arco, logo incorporado à sua Grande Loja, 'o coração, a raiz e o cerne da Maçonaria'. Claro, se os Antigos tinham o Real Arco, os Modernos não queriam nem ouvir falar dele. E muito menos o velho duque Grão-Mestre, para quem tudo o que fosse Alto Grau cheirava a conspiração dos Stuarts para tomar o troninho do irmão dele...
Para entender melhor, é preciso lembrar que a primeira Grande Loja virou Respeitável definitivamente em 1723, quando o conde de Dalkeith, partidário da nova dinastia dos Hanover, foi eleito Grão-Mestre (por maquinações de Desaguliers, que introduziu o Terceiro Grau) e substituiu o duque de Wharton, partidário dos Stuarts destronados.
A partir daí, foi um nobre atrás do outro como Grão-Mestre e às Lojas não mais se permitiu falar de política ou religião! Essa proibição vem daí, podem apostar! Um bom indício disto é convenientemente não se encontrar atas das reuniões da Grande Loja senão a partir de 1723...
Claro, o apelo do Real Arco atraía muita gente, a ponto dos Maçons da GL dos Modernos irem receber os graus na GL dos Antigos! A coisa foi tão longe que foi criado um Grande Capítulo por membros da primeira Grande Loja em 1767 (não 1777). Aí o autor deve ter feito confusão, porque a história é mesmo confusa e propositalmente tornada mais confusa ainda por certas fontes.
Com o tempo, a briga foi arrefecendo até chegar ao ponto em que a turma do deixa-disso resolveu reunir as duas Grandes Lojas rivais. Para aparar as diferenças dos dois rituais, criaram uma comissão de notáveis e uma Loja de Promulgação. Entre esses notáveis estava o secretário particular do duque de Sussex, nosso muito conhecido Hipólito da Costa.
Assim, quando houve a tal União de Antigos e Modernos, constituiu-se e difundiu-se um novo ritual.
Acontece que os Estados Unidos, cujas Lojas haviam inicialmente sido constituídas por cartas outorgadas pelas GLs dos Modernos, Antigos, Irlanda e Escócia, tornaram-se independentes e não deram a mínima bola para essa União. Simplesmente porque os Modernos desapareceram automaticamente, uma vez que, como parte do establishment inglês, não tinham mais lugar no novo país independente. Assim, prevaleceu o antigo ritual dos Antigos, muito semelhante ao dos irlandeses e escoceses. E prevalece até hoje.
Vamos entender: quando falamos York, falamos do Rito praticado nos Estados Unidos, oriundo do ritual pré-1813.
Justiça seja feita, os ingleses jamais chamariam o Rito deles de York, preferindo deixá-lo sem nome (isso foi coisa da burocracia maçônica brasileira, quando o Grande Oriente dos Beneditinos, que tinha Lojas trabalhando nos rituais americanos, reincorporou-se ao Grande Oriente do Brasil, onde trabalhavam Lojas no ritual inglês, em 1893. Eu, pessoalmente, achei melhor rotular estes Ritos para que nossa turma pudesse entender uma e outra coisa.
Temos então dois Ritos:
- Rito Inglês Antigo ou York, oriundo da prática da Grande Loja dos Antigos, trabalhado e conservado sem alteração nas Blue Lodges dos Estados Unidos;
- Rito Inglês Moderno, sem nome na Inglaterra (claro, eles nunca admitiriam ter recriado o ritual!), recriado para possibilitar a união de 1813 e trabalhado em seus múltiplos e quase semelhantes rituais, como Stability, Emulation (mais difundido deles porque a Emulation Lodge trabalha no Freemasons' Hall da Queens Street...), Perfect Ceremonies, Nigeiran etc.
Concluindo...
Vamos lembrar que os americanos têm basicamente um único ritual para as Blue Lodges, derivados do Monitor escrito e patenteado por Thomas Smith Webb em 1797 (baseado no Illustrations of Masonry, de William Preston). Para eles, onde as Grandes Lojas já estavam consolidadas na época da independência, as diferenças estão além do Simbolismo.
Por este motivo, quando foram criados o General Grand Chapter of Royal Arch Masons e o Supreme Council 33º, é que usa-se chamar de Escocês Antigo e Aceito aos Graus do 4º em diante e de York aos Graus de Mestre de Marca em diante.
Mas ninguém comete pecado algum se incluir os três primeiros Graus americanos no Rito de York.
Um último esclarecimento: a grande diferença entre o Real Arco americano original e o novo Arco Real inglês, criado para adaptar-se às condições da União de 1813, é que o modelo americano continua Maçonaria Capitular, com quatro Graus, enquanto o novo modelo inglês descartou os demais Graus e foi enfiado dentro do Simbolismo como um único Grau.
Cabe ressaltar que, apesar das diferenças estruturais, internacionalmente se permite a intervisitação nos Graus correspondentes, isto é, os americanos e ingleses podem freqüentar-se nos Graus de Maçom do Real Arco e de Mestre de Marca (conferido na Grande Loja da Marca inglesa, fora da estrutura da Grande Loja Unida). Entretanto, os Maçons ingleses somente poderão ser recebidos nos Capítulos americanos que estejam trabalhando nos Graus de Past Master e Mui Excelente Mestres se forem neles iniciados."
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