Baphomet...
Postado Terça-feira, 03 Julho, 2007 as 7:44 PM pelo Ir:. Christian Farias Santos
Para iniciarmos os estudos sobre o ?Baphomet?, inevitavelmente teremos que voltar a Idade Média. Os povos de então o vinculavam às gárgulas que aparecem com destaque nas I Igrejas Góticas, segundo alguns historiadores, com a função de afastar o mal segundo um costume pagão. Freqüentemente descrito como uma criatura metade humana e metade bode, logo foi confundido com o demônio cristão.
Nada mais natural do que o encontrarmos no rol das acusações contra os Templários, onde foi associado a ?um ídolo que eles adoravam ora na forma de uma ?Cabeça Barbada?, ora como uma ?estátua colocada num pedestal??. Mas todos os documentos pesquisados relatam que este Símbolo Templário era incorpóreo. Os desenhos estilizados da época não tinham relação nenhuma com os Templários.
Em análise observamos que os relatos foram obtidos sob tortura o que compromete definitivamente a descrição. Entretanto, de 1204 a 1302 o SUDÁRIO DE TURIM esteve sob a guarda dos Templários, sendo que em suas preceptorias possuíam réplicas do relicário onde ele estava depositado. As especulações atravessaram os séculos até que o ?ímpio? Léo Taxil, pseudônimo de Gabriel Antoine Jogand-Pagés ( jornalista; ?livre pensador?!?!?!, de acordo com o que se entendia na sociedade da época sobre alguém que se opunha à autoridade e dogma da sociedade, especialmente quando esta era religiosa e autor de histórias pornográficas) aparece na história da Maçonaria.
Em 1879 funda a Biblioteca Anticlerical e inunda a França com um derrame de panfletos e folhetins sensacionalistas. Popular e rico solicitou sua admissão na Maçonaria e encontrou a oposição de seus membros, por suas atividades anti-católicas. Porém, objeções de lado, aos 27 anos foi iniciado na Loja ? Os Amigos da Honra Francesa?, do Grande Oriente da França. Dez meses depois, em 1881, ainda no grau de Aprendiz foi excluído da Maçonaria pelo próprio Grande Oriente da França! Nesta ocasião declina o interesse pela literatura sensacionalista e as vendas de seus livros despencam. Sentindo a mudança, em 1885 declara-se convertido ao Catolicismo, repentinamente.
Nesta condição passa a freqüentar bibliotecas religiosas, e ataca de novo: inicia atividades contra qualquer coisa que ele entendesse como ocultismo, principalmente a Maçonaria que o havia excluído. Em seu livro de 1887 ? OS Mistérios da Franco-Maçonaria?, Taxil utiliza na capa a figura de Baphomet produzida por Eliphas Levi, um ex-padre que virou ocultista e uma mulher segurando uma ?Cabeça Barbada? decepada. Houve uma repercussão pública muito grande.
Em 1891 um novo livro, enorme sucesso, com pormenores sobre o ?culto do demônio?, chamado de ?Paladismo?, onde rituais de necromancia com a presença de Satanás representado por Baphomet, ?um ídolo com patas de cabra, peitos de mulher e asas de morcego? . Fantasiosamente atribui uma declaração de que ?Lúcifer é deus? a Albert Pike, como instrução repassada aos ?23 Supremos Conselhos Confederativos do Mundo? jurisdicionados ao ?Supremo Pontífice da Franco-Maçonaria Universal?, no caso Albert Pike. Devemos esclarecer alguns pontos:
Albert Pike era o Soberano Grande Comendador da Jurisdição Sul do Supremo Conselho Mãe do Mundo para o Rito Escocês Antigo e Aceito, desde 1859. Pelos seus estudos e reformas nos rituais era muito conhecido nos meios maçônicos e exercia influência neste sentido. Ele faleceu neste mesmo ano.
Albert Pike faz uma alusão a Lúcifer em seu livro ?Morals and Dogma?, é necessário esclarecer que Pike era um estudioso das religiões antigas e naquela época fez um extenso trabalho sobre as mesmas evocando-as em seu livro como importantes para o esclarecimento dos Irmãos e não como uma Verdade a ser seguida. Estamos transcrevendo as passagens vertidas diretamente do inglês:
?O verdadeiro nome de Satã, segundo os Cabalistas, é o nome de Yahveh ao inverso; porque Satã não é um deus negro, mas a negação de Deus. O Diabo é a personificação do Ateísmo ou Idolatria. Para os Iniciados ( da Antigüidade), este não era uma Pessoa, mas uma Força, criada para o bem, mas que poderia servir ao mal. É o instrumento da Liberdade ou Livre Arbítrio. Eles representam esta Força, que preside a geração física, sob a forma mitológica e ornada de cornos do deus Pan; dele vem o ser meio humano e meio bode do Sabbat, irmão da Antiga Serpente, e o Portador da Luz ou Phosphor, dos quais os poetas criaram a falsa lenda de Lúcifer?.
Fora de contexto poderia ser manipulada como uma incitação, entretanto analisando o texto o que se faz, é apenas um estudo mitológico para esclarecer como eram entendidas estes mitos na época que foram criados.
? O Apocalipse é,..., a Apoteose da Sublime Fé que aspira somente a Deus, e despreza todas as pompas e trabalhos de Lúcifer. Lúcifer o Portador de Luz! Estranho e misterioso nome dado ao Espírito da Escuridão! Lúcifer o Filho da Manhã! É ele que portando a Luz, que com seu esplendor intolerável cega as Almas fracas, sensuais e egoístas? Não duvidem! Pois tradições são cheias de Revelações Divinas e Inspirações: e Inspirações não pertencem a uma Época ou um Credo. Platão e Philo, também, eram inspirados?
Nesta passagem há uma legítima declaração de fé ao Grande Arquiteto do Universo, pois ele fala sobre as ilusões a que estamos submetidos. Além de haver uma tolerância religiosa evidente quando declara que a Revelação Divina não é propriedade de uma Época ou Credo. Ou seja, não haverão pessoas justas somente no passado ou no futuro e que qualquer indivíduo pode alcançar a Salvação, independente de sua fé. Hoje pode ser uma interpretação banal de tolerância religiosa, porém nos fins do século XIX, expunha uma série de conflitos religiosos em sociedades sabidamente intolerantes.
No entanto Léo Taxil, inventou a citação que não se encontra nos manuscritos de Albert Pike! O que Pike escreveu em seu livro mais conhecido são somente estas duas passagens num livro de 861 páginas.
E finalmente como todos os Irmãos sabe nunca houve, não há e nunca haverá um Supremo Governador da Maçonaria Universal, pois a independência e autonomia são princípios maçônicos básicos.
O ápice foi a invenção de ? Miss Diana Vaughan? no livro ?As Irmãs Maçonas? , ela queria livrar-se das garras do satanismo e voltar a Santa Igreja Católica. Mas era impedida por Pike e os Maçons. Surpreendentemente os Rituais se passavam em Charleston onde se encontrava então o Supremo Conselho ? Jurisdição Sul e claro, Albert Pike. Neste momento, porém ocorre o mais interessante. É esta mentira que destrói Léo Taxil, pois vários anti-Maçons começa a suspeitar da veracidade dos relatos de ?Miss Diana Vaughan?, o ponto culminante ocorre em meio ao Congresso Anti-Maçons em Trento, Itália em 1896, pois a tão esperada ?Miss Vaughan? não comparece. Várias comissões são criadas e inúmeras dúvidas aparecem sobre a veracidade dos fatos.
Finalmente em 19 de abril de 1897, Léo Taxil confessou sua farsa publicamente em uma reunião em Paris. A multidão ficou tão irritada, que Taxil teve que rastejar até uma porta dos fundos. Sua confissão completa foi publicada no jornal parisiense ?Le Frondeur? em 25 de abril de 1897.
Ainda assim muitos dos detratores da Maçonaria continuam a usar esta farsa para justificar uma absurda e inexistente ligação demoníaca. Atualmente enchem a Internet com estes mesmos textos e as mesmas mentiras. A Maçonaria continua sendo tolerante com os intolerantes e seguindo seu caminho de Fé, Esperança e Caridade.
Bibliografia:
Baphomet e o Mito do Bode na Maçonaria ? Ubyrajara de Souza Filho
Morals and Dogma ? Albert Pike
Encyclopaedia of Freemasonry ? Albert G. Mackey.