A MAÇONARIA BRASILEIRA PERANTE O FASCISMO E O INTEGRALISMO
Postado Quinta-feira, 11 Janeiro, 2007 as 2:14 PM pelo Ir:. Angelo Andres Maurin Cortes
Doutrina de um partido político --- Ação Integralista Brasileira --- criado depois do golpe de 1930, para combater o comunismo e todos os sistemas, ou correntes, considerados capazes de ajudar a infiltração comunista, no Brasil, o integralismo tinha, por base, o lema "Deus, Pátria e Família", ou seja, a religião católica (exclusivamente), a organização corporativista do Estado e a organização patriarcal da sociedade.
Fundado pelo escritor Plínio Salgado, o partido cresceu, a partir de 1932, graças ao apoio de considerável parcela do clero e de um grande número de intelectuais, além do fato de ter sido favorecido por uma conjuntura política que privilegiava os movimentos e as idéias baseadas no fascismo italiano e no nacional-socialismo alemão, liderado por Adolf Hitler.
O fascismo, no âmbito maçônico brasileiro, já vinha sendo combatido há muito tempo, em função da situação aflitiva das Lojas italianas, sob o regime liderado por Benito Mussolini. Em janeiro de 1925, as Oficinas brasileiras recebiam uma lista de subscrição em favor das Lojas italianas "victimas dos fascistas", acompanhada de uma carta, redigida em italiano. A Loja Piratininga, a mais tradicional de São Paulo, em fevereiro do mesmo ano, insurgia-se contra a perseguição movida por Mussolini às Lojas italianas e enviava, ao Grande Oriente do Brasil, uma prancha, solicitando que a Maçonaria brasileira protestasse contra essa perseguição e contra as idéias do fascismo.
O integralismo, um fascismo à brasileira, teve, na época, o apoio do governo ditatorial de Getúlio Vargas --- que empalmara o poder, quando do golpe de 1930 --- que o utilizou e colocou em prática muitas de suas idéias, não permitindo, porém, que os integralistas tivessem acesso ao poder. Todavia, com o crescimento, os seus adeptos, que usavam, em suas manifestações, camisas verdes e gestos nazi-fascistas, foram se tornando cada vez mais audaciosos, proporcionando tumultos de rua, em diversas capitais brasileiras, com maior ênfase para a Capital Federal da época --- Rio de Janeiro --- e para São Paulo, que era a base política de Plínio Salgado.
Em São Paulo, em 1934, a praça da Sé, marco zero da cidade, ficaria interditada, das 22,30 hs do dia 7 de outubro até ao meio-dia do dia 8, porque, ali, na tarde do dia 7, um domingo, durante cerimônia de entrega da bandeira de benção à corporação, os camisas verdes provocariam grandes distúrbios, durante os quais foram disparados tiros dos altos de diversos prédios. O prédio próprio da Loja Piratininga, ali localizado, na época, embora nada sofresse e embora não houvesse ninguém ali postado, que pudesse fazer os disparos, acabou sendo atingido pela interdição.
Diante disso tudo, no mês seguinte, a 6 de novembro de 1934, o Grande Oriente do Brasil, expedia, a todas as Lojas de sua jurisdição, assinada pelo Grande Secretário Geral, uma circular, onde informava que "o Conselho Geral da Ordem, em resolução referente a consultas de diversas Officinas, em relação a respectiva attitude em face do partido integralista, approvou o parecer da Comissão de Justiça seguinte: o integralismo e a maçonaria são instituições que se reppelem ; não deve a maçonaria admittir integralistas em seu seio, o que motiva em considerações que expõe ; os maçons integralistas renegam os principios liberaes maçonicos, prova já dada pelo respectivo procedimento na Italia, em Portugal e na Allemanha ; faz notar que ás Lojas compete deliberar sobre a conveniencia de conservar ou eliminar dos seus quadros os maçons que agem contra os principios maçonicos" . Portugal está aí incluído porque, a partir da Constituição de 1933, o país passava a ser uma república unitária e corporativa, sob a égide de Antônio de Oliveira Salazar, que, em 1928, fora convidado, pelo presidente Oscar Carmona, para ser ministro das Finanças.
Não se tem notícia de que tivesse havido exclusão de obreiros dos quadros das Lojas, pois algumas alegaram que não havia integralistas em seu seio, enquanto outras afirmavam que os que existiam em seus quadros haviam deixado o partido, por fidelidade à Maçonaria. Na realidade, porém, muitos dos maçons "camisas verdes", fanatizados pelas idéias integralistas, haviam deixado, espontaneamente, as Lojas e a instituição, passando, inclusive, a combatê-las.
Quando ocorreu o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, com a implantação da ditadura férrea do Estado Novo, a Ação Integralista, como todos os demais partidos, foi dissolvida. Todavia, em maio de 1938, os integralistas tentaram um contragolpe, malogrado, com assalto ao Palácio Guanabara, onde residia Getúlio Vargas. Quando da queda do ditador, em 1945, e a reorganização dos partidos, o integralismo voltou sob o nome de Partido de Representação Popular, mas já sem nenhuma expressão e nem repercussão, vindo a desaparecer, posteriormente.
--- José Castellani ---