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DISCURSO DO CAVALEIRO DE RAMSAY

Postado Quinta-feira, 11 Janeiro, 2007 as 12:37 PM pelo Ir:. Angelo Andres Maurin Cortes

Senhores, o nobre ardor que demonstrais para ingressar na nobilíssima e ilustríssima Ordem dos Franco-Maçons, é prova incontestável de que já possuís todas as qualidades necessárias para tornar-vos seus membros, isto é, a humanidade, a moral pura, o segredo inviolável e o gosto pelas belas-artes.

Licurgo, Sólon, Numa e todos os legisladores políticos não puderam tornar duradouros seus sistemas: por mais sábias que fossem suas leis, não puderam estender-se a todos os países e em todos os séculos. Por não terem em vista senão as vitórias e as conquistas, a violência militar e a proeminência de um povo sobre outro, não puderam tornar-se universais, nem se ajustar ao gosto, ao gênio e aos interesses de todas as nações. A filantropia não constituía sua base. O amor à Pátria, mal compreendido e levado ao excesso, destruía muitas vezes, naquelas repúblicas guerreiras, o amor e a humanidade em geral. Os homens não se distinguem essencialmente pela diferença das línguas que falam, dos hábitos que possuem, pelas regiões que habitam, nem pelas dignidades de que são revestidos. O mundo inteiro não é senão uma grande República, da qual cada nação é uma família e cada indivíduo, um filho. Foi para reviver e expandir essas máximas essenciais, inerentes à natureza humana, que foi inicialmente estabelecida nossa Sociedade. Queremos reunir todos os homens dotados de espírito esclarecido, de costumes morigerados e de humor agradável, não só pelo amor às belas-artes, mas também pelos grandes princípios de virtude, de ciência e de religião, nos quais o interesse da Confraria torna-se o interesse do gênero humano, nos quais todas as nações podem sorver conhecimentos sólidos e nos quais os súditos de todos os reinos podem aprender a se estimar mutuamente, sem renunciar à sua pátria. Nossos antepassados, os cruzados, reunidos de todas as partes da Cristandade na Terra Santa, quiseram reunir assim numa única confraria os indivíduos de todas as nações. Que gratidão não devemos a esses homens superiores, que, sem interesses subalternos, sem mesmo ouvir a vontade natural de domínio, imaginaram um estabelecimento cujo único objetivo fosse a reunião dos espíritos e dos corações, para torná-los melhores e formar, com o tempo, uma nação toda espiritual, na qual, sem derrogação dos diversos deveres impostos pela diferença dos Estados, se criará um povo novo, o qual, composto de várias nações, as cimentará todas, de uma certa maneira, pelo vínculo da virtude e da ciência.

A sã moral é a segunda disposição exigida em nossa sociedade. As ordens religiosas foram criadas para tornar os cristãos perfeitos; as ordens militares, para inspirar o amor à verdadeira glória; e a ordem dos Franco-Maçons para formar homens e torná-los amáveis, bons cidadãos, bons súditos, invioláveis em suas promessas, fiéis adoradores do Deus da Amizade, mais amantes da virtude do que das recompensas

Polliciti servare lidem, sanctumque vereri.

Numen amicitiae mores, non munera amare.

(As promessas de salvação são um grande ultraje ao que é puro, à vontade divina, aos costumes e à amizade e não são prova de bem querer. – Tradução: Fadista)

Com isto não queremos dizer que nos limitamos unicamente às virtudes civis. Temos entre nós três espécies de confrades: noviços ou aprendizes; companheiros ou professos; mestres ou perfeitos. Aos primeiros se explicam as virtudes morais; aos segundos, as virtudes heróicas, e aos últimos, as virtudes cristãs. De modo que nosso instituto encerra toda a Filosofia dos sentimentos e toda a Teologia do coração. Eis por que um dos nossos veneráveis confrades exclama:

Maçom Livre, ilustre Grão-Mestre,

Recebe meus primeiros entusiasmos.

Em meu coração a Ordem os fez nascer,

Sou feliz porque tão nobres esforços

Fazem-me merecer tua estima

E me elevam ao verdadeiro e ao sublime,

A primeira verdade,

A essência pura e divina,

Da alma celeste origem,

Fonte de vida e de iluminação.

Como uma filosofia triste, selvagem e misantropa afasta os homens da virtude, quiseram nossos antepassados, os cruzados, torná-la amável pela atração de prazeres inocentes, de uma música agradável, de uma alegria pura e de um contentamento razoável. Nossos festins não são o que imaginam o mundo profano e o ignorante vulgar. Todos os vícios do coração e do espírito dali são banidos e a irreligião e a libertinagem, a incredulidade e a devassidão são proscritas. Nossa refeição se parece com aquelas virtuosas ceias de Horácio, onde se exercitava tudo que pudesse ilustrar o espírito, moderar os sentimentos e inspirar o gosto pelo verdadeiro, pelo bom e pelo belo.

O noctes coenoeque Deum. . .

Sermo oritur, non de regnis domisbusve alienis

. . .sed quod magis at nos

Pertinet et nescire ma/um est, agitamus; utrumne

Divitiis bomines, an sint virtute beati;

Quidve ad amicitias usus rectumve trabat nos

Et qure sit natura boni, summumque quid ejus.

Assim, as obrigações que a Ordem vos impõe destinam-se a proteger vossos irmãos com a vossa autoridade, a esclarece-los com as vossas luzes, a edificá-los com as vossas virtudes, a socorre-los em suas necessidades, a sacrificar todo ressentimento pessoal e buscar tudo quanto possa contribuir para a paz e a união da sociedade.

Não temos segredos. Estes são sinais figurativos e palavras sagradas, que compõem uma língua ora muda, ora muito eloqüente, para a transmitir à maior distância e para reconhecer nossos confrades, qualquer que seja sua língua. Eram palavras de guerra que os cruzados davam-se uns aos outros para se prevenir contra surpresas dos sarracenos, que se infiltravam frequentemente entre eles, com o objetivo de os degolar. Esses sinais e essas palavras são um lembrete ou de alguma parte de nossa Ciência, ou de alguma virtude moral ou de algum mistério da Fé. Aconteceu conosco o que não aconteceu a quase nenhuma outra sociedade. Nossas Lojas foram fundadas e se espalharam em todas as nações civilizadas e, todavia, entre um tão grande número de homens jamais nenhum de nossos confrades traiu nossos segredos. Os espíritos os mais levianos, os mais indiscretos, os menos instruídos, para se calar, aprendem esta grande ciência ao entrar para a nossa Sociedade. Tamanha é a força sobre os espíritos exercida por tão grande idéia de união fraternal! Esse segredo inviolável contribui fortemente para ligar os indivíduos de todas as nações e para tornar fácil e mútua a comunicação dos benefícios entre nós. Temos vários exemplos disso nos Anais de nossa ordem. Nossos irmãos que viajavam por diversos países não precisavam fazer outra coisa que se fazer reconhecer em nossas Lojas, para ali serem cumulados imediatamente de todas as formas de auxílio; mesmo nos tempos de guerras mais sangrentas, ilustres prisioneiros encontraram irmãos onde só esperavam encontrar inimigos.

Se alguém faltasse às promessas solenes que nos unem, sabei, Senhores, que a pena que lhe imporíamos seriam os remorsos da consciência, a vergonha de sua perfídia e a expulsão de nossa Sociedade, conforme as belas palavras de Horácio:

Est et lideli tuta silentio

Merces; vetabo qui Ceresis sacrum

Vulgaris arcanum; sub iisdem

Sit trabibus, Iragilemque mecum

Salvat phaselum. . .

Sim, meus Senhores, as famosas festas de Ceres em Elêusis, de Isis no Egito, de Minerva em Atenas, de Urânio entre os fenícios e de Diana na Cítia tinham relação com as nossas. Ali se celebravam Mistérios, nos quais se achavam vários vestígios da antiga Religião de Noé e dos Patriarcas. Terminavam com banquetes e libações e ali não se conheciam nem a intemperança, nem os excessos em que os pagãos caíram aos poucos. A origem dessa infâmia foi a admissão de um e de outro sexo às assembléias noturnas contra a instituição primitiva. Foi para prevenir contra tais abusos que as mulheres foram excluídas de nossa Ordem. Não somos tão injustos para considerar o sexo como incapaz do segredo. Mas a sua presença poderia alterar insensivelmente a pureza de nossas máximas e de nossos costumes.

A quarta qualidade requerida em nossa ordem é o gosto pelas ciências úteis e pelas artes liberais. Assim exige a Ordem de cada um de vós a contribuição, por vossa proteção, por vossa liberalidade ou por vosso trabalho, para uma imensa obra, para a qual nenhuma Academia seria suficiente, porque sendo todas essas sociedades compostas de uma quantidade muito pequena de membros, seu trabalho não pode abranger um objetivo tão extenso. Todos os Grãos-Mestres da Alemanha, da Inglaterra, da Itália e de outros países exortam todos os sábios, e todos os artífices da Confraria para que se unam e forneçam a matéria para um Dicionário Universal das Artes Liberais e das Ciências úteis, só excetuadas as da Teologia e da Política. A obra já foi iniciada em Londres e com a união de nossos confrades será possível levá-la à perfeição dentro de poucos anos. Ali se explicam não só as palavras técnicas e sua etimologia, como também a história de cada Ciência e de cada Arte, seus princípios e maneira de operar. Com isto se reunirão as luzes de todas as nações numa só obra, que será como uma biblioteca universal do que há de belo, de grandioso, de luminoso, de sólido e de útil em todas as Ciências e em todas as Artes nobres. Essa obra aumentará em cada século, conforme o aumento das luzes, e difundirá por toda parte a emulação e o gosto pelas coisas belas e úteis.

O nome Franco-Maçom não deve, portanto, ser tomado num sentido literal, grosseiro e material, como se nossos instituidores tivessem sido simples trabalhadores em pedra ou gênios puramente curiosos, que quisessem aperfeiçoar as Artes. Eles eram não só hábeis arquitetos, que queriam consagrar seus talentos e seus bens à construção dos Templos exteriores, mas também príncipes religiosos e guerreiros, que quiseram iluminar, edificar e proteger os templos vivos do Altíssimo. É o que vos pretendo mostrar, ao vos expor a História, ou antes, a renovação da Ordem.

Cada família, cada república, cada império, cuja origem se perde numa antiguidade obscura, tem sua fábula e sua verdade, sua lenda e sua história. Há quem remonte nossa instituição aos tempos de Salomão, outros a Moisés, outros a Abraão, alguns até a Noé e mesmo até a Enoque que construiu a primeira cidade, ou até a Adão. Sem pretender negar essas origens, passo a coisas menos antigas. Eis aqui, portanto, uma parte do que recolhi nos antigos anais da Grã-Bretanha, nas atas do Parlamento britânico, que se referem muitas vezes aos nossos privilégios, e na tradição viva da nação inglesa, que foi o centro de nossa Confraria a partir do século XI.

No tempo dos cruzados na Palestina, vários príncipes, senhores e cidadãos uniram-se e professaram o voto de reconstruir os templos dos cristãos na Terra Santa e de se empenharem na reconstituição de sua arquitetura primitiva. Estabeleceram vários sinais antigos e palavras simbólicas, tirados do fundo da Religião, para se fazer conhecer entre si em meio aos infiéis e sarracenos. Esses sinais e essas palavras só eram comunicados àqueles que prometiam, solenemente, e muitas vezes ao pé dos altares, jamais os revelar. Essa promessa sagrada não era, portanto, um juramento execrável, como é tachada, mas um bem respeitável para unir os cristãos de todas as nações numa mesma irmandade. Pouco tempo depois, nossa Ordem se uniu intimamente com os Cavaleiros de São João de Jerusalém. Desde então, nossas Lojas trouxeram todas o nome de Lojas de São João. Essa união se fez a exemplo dos israelitas, quando levantaram o segundo templo. Enquanto manejavam a trolha e a argamassa com uma mão, traziam a espada e o escudo na outra.

Nossa Ordem não deve ser, por conseguinte, considerada como uma renovação das Bacanais, mas como uma Ordem moral, fundada na antiguidade e renovada na Terra Santa por nossos antepassados, para restabelecer as mais sublimes verdades em meio aos inocentes prazeres da Sociedade. Os reis, os príncipes e os senhores, de volta da Palestina para seus Estados, ali fundaram diversas Lojas. No tempo dos derradeiros cruzados, viam-se várias Lojas estabelecidas na Alemanha, na Itália, na Espanha, na França e daqui para a Escócia, dada a estreita aliança dos escoceses com os franceses. Jacques, Lord Steward da Escócia, era o Grão-Mestre de uma Loja estabelecida em Kilwin, no oeste da Escócia no ano MCCXXXVI, pouco depois da morte de Alexandre III, rei da Escócia, e um pouco antes de Jean Baliol subir ao trono. Esse senhor recebeu como Franco-Maçons, em sua Loja, os condes de Glocester e de Ulster, um inglês, o outro, irlandês.

Pouco a pouco nossas Lojas e nossas solenidades foram negligenciadas na maioria dos lugares. Daí a razão de, entre tantos historiadores, só os da Grã-Bretanha falarem de nossa Ordem. Ela, todavia, se conservou em seu esplendor entre os escoceses, a quem nossos reis (da França) confiaram durante vários séculos a guarda de suas sagradas pessoas.

Após os deploráveis reveses dos Cruzados, da deterioração dos exércitos cristãos e do triunfo de Bendoidar, sudão do Egito, durante a oitava e última cruzada, o grande príncipe Eduardo, filho de Henrique III, rei da Inglaterra, vendo que não havia mais segurança para seus confrades na Terra Santa, de onde se retiravam as tropas cristãs, os reconduziu todos, e essa colônia de Irmãos estabeleceu-se na Inglaterra. Como esse príncipe tinha tudo que faz os heróis, amou as belas-artes, declarou-se protetor de nossa Ordem, concedeu-lhe novos privilégios e, então, os membros dessa confraria assumiram o nome de Franco-Maçons, a exemplo de seus antepassados.

A partir dessa época, a Grã-Bretanha foi a sede de nossa Ordem, a conservadora de nossas leis e a depositária de nossos segredos. As discórdias fatais de religião que tumultuaram e dilaceraram a Europa no século XVI, levaram à degeneração da nobreza de origem dá Ordem. Vários ritos e usos que eram contrários aos preconceitos do tempo foram mudados, disfarçados ou suprimidos. Foi assim que muitos de nossos confrades esqueceram, como os antigos judeus, o espírito de nossas leis, e delas não retiveram senão a letra e a casca. Alguns remédios começaram a ser aplicados. Não se trata senão de continuar e de reconduzir tudo à sua primeira instituição. Esta obra não pode ser muito difícil num Estado em que a Religião e o Governo não poderiam ser senão favoráveis às nossas leis.

Das Ilhas Britânicas a Arte Real começa a se estender na França, sob o reinado do mais amável dos reis, cuja humanidade anima todas as virtudes, e sob o ministério de um mentor que realizou tudo o que se poderia imaginar de fabuloso. Nesta época feliz em que o amor à paz tornou-se a virtude dos heróis, a nação, uma das mais espirituais da Europa, tornar-se-á o centro da Ordem. Ela se estenderá sobre nossas obras, nossos estatutos e nossos costumes a graça, a delicadeza, o bom gosto, qualidades essenciais numa Ordem cuja base é a Sabedoria, a Força e a Beleza do Gênio. Será em nossas Lojas, no futuro, como nas escolas públicas, que os franceses verão, sem viajar, os caracteres de todas as nações, e que os estrangeiros aprenderão, por experiência, que a França é a pátria de todos os povos. "Patria gentis humanae”.

A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciatica.

Jean Palou

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