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ALQUIMIA

Postado Quarta-feira, 22 Novembro, 2006 as 5:00 PM pelo Ir:. Newton Pontes

É difícil dizer exatamente o que é a alquimia, isto é, se ela é uma ciência, uma arte, ou filosofia ou uma religião. De um modo mais amplo, podemos considerá-la como uma "arte de bem viver", de maneira que englobe as características tanto da filosofia, das ciências, como da religião, e mesmo da arte. A diferença, assim considerada, entre alquimistas e sábios reside no fato destes buscarem a perfeição através da sabedoria, enquanto os alquimistas buscavam a perfeição através das transmutações dos metais (alma). Os alquimistas procuravam estudar a natureza e intervir no processo de modo a atingir a perfeição do espírito e da longevidade da vida material. Assim, enquanto os alquimistas misturavam teoria e prática, os sábios apenas se preocupavam com as questões do espírito, do puro conhecimento. Os alquimistas também se diferenciam dos simples artesões por estes se preocuparem com o trabalho manual com os metais, produzindo artefatos de utilidade bem como adornos. Os artesões se preocupavam com a obtenção de ouro vulgar, diferentemente dos alquimistas que buscavam o ouro (sol) alquímico. O ouro alquímico era indicação da perfeição, a sua obtenção era considerada como a obtenção da longevidade. Enquanto o interesse da obtenção do ouro vulgar, por parte dos artesões, ia desde a simples ostentação de riqueza até a falsificação deste metal com fins desonestos.

"Para o verdadeiro alquimista, transformar metal em ouro é apenas uma brincadeira de criança?.

Percebe-se por aí que a alquimia tem uma relação íntima entre o conhecimento dos segredos da natureza e o aperfeiçoamento da alma. Por isso, os próprios alquimistas consideravam o seu trabalho como um projeto de vida ao qual se dedicavam integralmente, a Grande Obra, objetivo de todo bom e belo alquimista.

Figura 1: O Alquimista, 1661, quadro de Pietro Longhi.

SIGNIFICADO DA PALAVRA ALQUIMIA

O significado da palavra Alquimia é diretamente relacionado à origem que se dá a ele. O termo árabe kimya talvez tenha vindo do grego chemeia, que, junto com o artigo al, daria origem ao termo al-kimya. O problema está em que chemeia possui pelo menos duas raízes possíveis: 1) pode ter vindo do termo chem, de origem egípcia, que quer dizer negro. Daí a alquimia ser conhecida como a arte negra. Há conjecturas sobre o porquê da cor negra: talvez pela identificação com o próprio Egito, devido à cor de suas terras, talvez pela cor que adquirem os metais quando submetidos ao fogo. 2) A outra origem possível seria o verbo chew, que significa lingote ou barra de metal fundido e chemeia, que é a arte de preparar tal lingote. Esta origem relaciona a alquimia à arte da metalúrgica. Seja como for, a alquimia adquiriu um significado próprio ao longo de sua história, A Grande Arte.

A ORIGEM DA ALQUIMIA

A alquimia tem uma história cujos marcos iniciais são muito difíceis de serem determinados. O verdadeiro alquimista não revela os seus segredos. Vários textos sobre alquimia foram escritos de modo simbólico, sendo que seus autores podem ser pseudônimos de outros, ou mesmo os textos serem apócrifos.

Esta história passa por vários caminhos, dentre os quais: a Grécia, Índia, China, Arábia e, finalmente, Europa. Ao passar por estes caminhos, a alquimia foi influenciada pela cultura local. Tratados foram feitos buscando sintetizar o acúmulo do conhecimento alquímico. O que unifica este conhecimento como alquímico é a busca da perfeição do corpo e da alma, bem como a sua longevidade. Para isto, eles estudavam a natureza, em particular os metais. Eles acreditavam que se poderia obter ouro, símbolo da perfeição, através da transmutação dos metais, a pedra filosofal. Acreditavam também poder encontrar um remédio que curasse todas as doenças, a panacéia universal. Este trabalho, conhecido como a Grande Obra, seguia a inspiração de Hermes Trismegisto.

Hoje, consideram mais a alquimia como uma antecessora da química moderna. Mas há uma diferença que faz com que não se considere a alquimia como uma pré-química. Esta diferença é a relação da totalidade espírito-matéria que estabelece a alquimia, enquanto a química trabalha apenas a matéria da matéria.

A alquimia foi primeiramente praticada na Alexandria, e sua fase Helenística durou até 700 d.C., quando ocorreu a dramática expansão do Islamismo. Durante os próximos 500 anos os principais alquimistas vieram do mundo Islâmico. Então, em 1200 d.C., quando o poder islâmico estava em declínio, manuscritos árabes começaram a ser traduzidos para o Latim, e teve início a fase européia da alquimia. A arte foi praticada na Europa durante os próximos 500 anos, até atingir um lento declínio.

A alquimia ocidental foi o prelúdio para a química moderna, mas a alquimia também foi praticada na China de 175 a.C. a, aproximadamente, 1000 d.C. É quase certo que a Alquimia Islâmica incorporou algumas idéias de origem Chinesa.

A química é grata à alquimia pelo desenvolvimento de muitas técnicas de laboratório. Com a ajuda dessas técnicas, algumas substâncias importantes foram obtidas, como o etanol e os ácidos minerais. Embora estas descobertas tenham sido feitas enquanto a alquimia ainda era praticada, não há evidências de que elas ocorreram no curso de uma busca pelo ouro. O único caso comprovado de uma importante descoberta feita durante uma pesquisa alquímica foi a separação do Fósforo por Henning Brand em 1669.

Figura 2: Correspondência dos astros com metais

ALQUIMIA ALEXANDRINA

A Alquimia Alexandrina surgiu como confluências dos babilônios, egípcios, judeus, persas e gregos. Ela mistura elementos de magia oriental e de filosofia grega. Alexandria era a cidade fundada por Alexandre, no Egito, em sua homenagem. Alexandre tinha sido discípulo de Aristóteles, mas acredita-se que não aprendeu nada com o mestre, pelo menos em política. Ele foi um grande general e ainda jovem havia conquistado o mundo em seu tempo, Alexandria deveria ser o centro deste seu império. Esta cidade tornou-se um marco na cultura helênica, com uma enorme biblioteca, com uma proliferação de textos, uma profusão de conhecimentos. Neste ambiente cultural é que se desenvolveu a Alquimia Alexandrina. Os sábios buscavam conhecimentos e produziam conhecimentos. A investigação sistemática da natureza, indicada por Aristóteles, passou a ser trabalhada para além do campo teórico, também na prática. Os alquimistas trabalhavam a natureza em seus laboratórios secretos, explorando as práticas metalúrgicas. Eles escreviam, desenhavam, procurando retratar o seu trabalho para passar a seus discípulos. Alguns destes escritos sobreviveram até hoje, tal como os papiros de Leyden e de Estocolmo. A maioria destes, entretanto, é apócrifa e, na maioria das vezes sua autoria é atribuída a deuses. Tal é o caso da Tábua Esmeraldina, cuja autoria é atribuída a Hermes Trismegisto, que inspirou um movimento místico-alquímico, conhecido como hermetismo.

ALQUIMISTAS ALEXANDRINOS

Dentre os principais alquimistas alexandrinos encontram-se Zózimo, século III d.C. Maria, a Judia, e (pseudo) Demócrito. Eles fizeram trabalhos importantes com metais. É a partir deles que aparecem a Pedra Filosofal, a tentativa de transmutar os metais em ouro (sol) e prata (lua) e a dedicação ao trabalho, considerado como a Grande Obra. Eles misturaram influências da filosofia grega com o pensamento místico oriental. Maria, a judia, por exemplo, era uma egípcia helenzida versada em magia oriental. É atribuída a ela a invenção do banho-maria. Ela também teria inventado um alambique de três bicos para a destilação de águas sulforosas, desenvolvendo uma prática mais sensível de laboratório. Zózimo é considerado o primeiro alquimista. Dizem que ele tinha como sonho o homem metálico. Para ele, a metalinidade dos metais não depende de sua matéria, mas das qualidades que vêm a tomar. Assim, o ouro possui qualidades auríferas. O negro que assumem os metais durante o processo de calcinação é considerado a mortificação dos metais, que liberaria as energias ruins purificando o metal. É desse modo que ele entende a transmutação dos metais, sendo os metais pensados como "sementes" que devem brotar o ouro da Mãe Terra, o metal perfeito por excelência.

Depois de Zózimo, a alquimia deixou de ser investigação sobre a matéria, passando a ser uma doutrina mística, intocável, imutável e irrefutável. Fazia parte desta doutrina o entendimento vitalista, quase panteísta, da natureza, ou seja, que os minerais são matérias vivas, partes de um espírito universal que preenche toda natureza.

ALQUIMIA CHINESA

"Se com o ouro alquímico fabricares pratos e vasilhas, e nelas comeres e beberes, viverás longo tempo... o homem verdadeiro faz ouro porque deseja, utilizando-o como remédio (...) torna-se imortal". Pao Pu Tsu.

A alquimia na China parece ter se desenvolvido quase ao mesmo tempo em que na Grécia ou em Alexandria, isto talvez devido a influências hindus ou, então, ao chamado "inconsciente coletivo" do psicólogo Carl Jung ou, ainda, a abertura do arquivo Akáshico.

Seja como for, a alquimia chinesa possui características próprias e outras semelhantes à alexandrina. A maior diferença fica por conta dela não ser diretamente vinculada à metalurgia, isto talvez pela escassez de minérios ou pelo lento desenvolvimento de técnicas metalúrgicas na China. A prática alquímica, na China, está mais vinculada à busca do "elixir" da longevidade. Esta busca está intimamente relacionada ao taoísmo, misto de religião e "filosofia". Deste modo, os alquimistas chineses buscavam a perfeição, a harmonia e sabedoria no ouro alquímico, cuja essência era extraída de plantas e animais. Estas plantas eram conhecidas como "ervas da imortalidade". Pao Pu Tsu (pseudônimo de Kon Hong) foi um dos maiores alquimistas chineses, segundo ele, quem comer num prato feito de ouro alquímico terá uma vida prolongada.

Note-se que na China o ouro não possuía o mesmo valor que no Ocidente. Não se tratava de buscar o ouro alquímico com o intuito de riquezas, mas sim de perfeição. É deste modo que o ouro fabricado possui muito mais importância por concentrar nele a sabedoria de sua produção, enquanto o ouro natural é considerado simples matéria bruta, embora a mais perfeita produzida pela natureza.

Muito daquilo que sabemos da alquimia chinesa encontra-se no Segredo da Flor de Ouro. Esta alquimia, preocupada em curar os males humanos, conciliou o taoísmo e o I-Ching em busca da perfeição, harmonia e longevidade dos homens. Os alquimistas chineses almejavam a harmonia universal, sonhando com elixires mágicos que garantissem a juventude bendita e eterna.

TAOÍSMO

O Taoísmo é uma "filosofia de vida", tendo sido fundada por Lao Tsé no século VI a.C. Tao é o caminho do universo a ser atingido através do equilíbrio entre os opostos. Assim, temos como pares opostos básicos: Yin, princípio feminino (Lua) e passivo; e Yang, princípio masculino (Sol) e ativo. Juntos, eles geraram o mundo, sendo que todas as coisas do mundo são associadas a estes princípios, considerados princípios vitais. O sol, a lua, os planetas, a terra, e tudo o que vem da terra, tudo vem de Yin e Yang.

Para os chineses, existem 5 elementos: a água, a terra, o fogo, a madeira e o metal. Também 5 são os planetas e 5 são nossos dedos. Note-se que o número 5 é um número ímpar, ou seja, ele é composto de 4+1, 2+3, ou ainda, 2+2+1. Neste último caso percebe-se a noção de equilíbrio e harmonia que é devido ao quinto elemento ou quinta essência divina.

A harmonia e o equilíbrio são fundamentais para os chineses. É necessário estabelecer uma proporção correta entre Yin e Yang, que são considerados energias "opostas", mas complementares. O corpo humano tem em si uma reprodução do universo, é um microcosmo. O desequilíbrio provoca doenças, sendo o desequilíbrio ocasionado pela falta de algum elemento de energia oposta. A cura seria feita através da introdução deste elemento na proporção necessária a restabelecer o equilíbrio.

As pessoas dotadas de sabedoria teriam condições de estabelecer sua própria harmonia interior pela dosagem das energias opostas, visando o equilíbrio fundamental. Além disso, este equilíbrio deveria levar em conta a própria relação com o meio externo, a natureza e as demais pessoas, para haver uma harmonia perfeita e completa. A prática alquímica chinesa procurou desenvolver um "elixir" que recuperasse as energias perdidas das pessoas afetadas por algum mal, devolvendo-lhes o equilíbrio universal.

ALQUIMIA ÁRABE

?Tudo está em Tudo... o Universo é Mental?

Hermes Trismegisto.

Depois do fim do Império Romano do Ocidente, o Império Romano do Oriente permanece isolado por muito tempo, estando sob o domínio dos turcos-otomanos. O ocidente, por sua vez, ficou por muito tempo num estado de desagregação quase total, sendo lenta a sua recuperação. Outro Império que se desenvolveu e teve muitas conquistas foi o dos árabes. Os árabes são povos semitas, do mesmo modo que os judeus, enquanto estes são descendentes de Israel e por isso israelitas, os árabes são os filhos de Ismael, ismaelitas. Entretanto, durante séculos o povo árabe esteve desunido em guerras constantes, separados em grupos. Foi no século VI que Maomé iniciou um processo de unificação do povo árabe, em torno da religião. A partir desta religião é que vêm os nomes: maometanos, islamitas e mulçumanos.

Com este processo de unificação, os califas apoiaram Maomé na Jihad (guerra santa), que era a luta pela conversão dos infiéis a Alá. Desta maneira, os árabes acabaram por expandir-se, construindo um vasto império, que ocupava regiões do Oriente próximo e de parte da Europa (península Ibérica). Os árabes não apenas conquistaram terras e tesouros, mas também se apoderaram da cultura das regiões dominadas. Eles produziram uma enorme cultura durante o seu império. Na Península Ibérica (Portugal e Espanha), eles deixaram diversos monumentos de sua presença. Entre as diversas contribuições da cultura árabe, está a divulgação da filosofia aristotélica, que esteve perdida para o Ocidente durante o primeiro período medieval. Conjuntamente com esta filosofia, estava a recuperação da alquimia como uma arte do conhecimento. O próprio termo alquimia já teria sua denominação árabe na partícula "al".

Havia dois tipos, de "filósofos" os Ismailis, dedicados a desvendar os segredos da matéria; e os Sufis, dedicados ao conhecimento esotérico e oculto. Estes homens eram basicamente das classes cultas e de uma certa posse material, pois eles trabalhavam com uma enorme massa de textos antigos, escritos em várias línguas, algumas até mortas, e também tinham laboratórios para praticar o seu conhecimento.

OS TRADUTORES

O trabalho principal dos árabes foi no sentido de pesquisa e tradução, o que acabou por proporcionar o aparecimento de alguns alquimistas famosos. Eles romperam com a noção de uma alquimia enquanto um corpo doutrinário, passando novamente para aquele que a concebe como fonte de pesquisa e conhecimento da natureza, do homem e das coisas, através da prática com os metais e o fogo.

Há basicamente três grupos de tradutores: o primeiro o dos Nestorianos, um grupo de dissidentes da Igreja Cristã, que teriam fugido para Constantinopla, fixando-se no norte da Síria. O maior destes tradutores foi Humain Ibn Ishaq, de origem persa, ele traduzia não só obras médicas como outras obras de textos antigos. O segundo grupo era o dos Monofisistas, que eram religiosos banidos de Constantinopla, sendo muito religiosos, eles traduziam vários textos esotéricos e ocultos. A este grupo são atribuídas as primeiras traduções de textos alquímicos. O terceiro grupo foi o dos Sabeans, considerados infiéis. Eles traduziram uma enorme quantidade de textos sobre matemática e astronomia, magia operativa e alquimia. São nos textos árabes que aparece com freqüência a citação de uma Pedra Filosofal. Eles recuperaram as noções da alquimia alexandrina, chinesa e egípcia. A filosofia aristotélica foi de fundamental importância nesta retomada cultural feita pelos árabes.

CULTURA ÁRABE

Os árabes conquistaram diversas civilizações, com a bizantina, a persa, indiana e a chinesa. Eles não reprimiram a cultura dos povos conquistados, ao contrário, a respeitaram. Deste modo foi possível um enorme desenvolvimento cultural.

A arquitetura foi um dos pontos mais fortes da contribuição dos árabes para a humanidade. Cúpulas, decorações ricas em detalhes e profusão geométrica são traços da riqueza arquitetônica árabe. Da literatura, conhecemos as Mil e Uma Noites (1001) e o Rubayyat, de Omar Khayyam, mas existem inúmeros outros belos exemplos da literatura mulçumana.

A ciência teve uma grande contribuição, nas áreas da astronomia, medicina, matemática, química. Nesta área, a alquimia teve um papel fundamental, pois os árabes fizeram descobertas como o álcool, o carbonato de sódio, o nitrato de prata, os ácidos nítrico e sulfúrico. Eles descreveram os processos de destilação, filtração e sublimação. Na filosofia, os árabes recuperaram Platão e Aristóteles, sendo Avincena e Averróis os dois grandes nomes da filosofia árabe.

ALQUIMIA EUROPÉIA

Com a queda do Império Romano do Ocidente, a Europa ficou durante muitos anos num estado de letargia. Era o começo do feudalismo. A Europa passou a ser dividida em feudos sob o domínio dos senhores. Mas havia algo que unificava os europeus, era a Igreja católica cristã, que durante muitos anos manteve seu predomínio sobre as mentes e corações dos europeus. Isto durou até a reforma protestante de Martinho Lutero quando a Igreja se dividiu em duas: a católica e a protestante.

A Igreja durante o período medieval buscou controlar com a mão de ferro os espíritos de seus fiéis. Para isso é que foram constituídas de Inquisições, que foram úteis no combate as heresias que punham em risco a hegemonia da Igreja. Fogueiras, torturas, julgamentos foram típicos deste período. Havia também as denúncias sobre aqueles que se desviam da "palavra do senhor", sobre pessoas que protestavam um credo diferente, ou mesmo sobre aqueles que buscavam o conhecimento da natureza. Assim, alquimistas, médicos, filósofos e outros tinham de tomar cuidado para não acabarem na fogueira. Conjuntamente com a repressão da força dos instrumentos da inquisição, a Igreja também se utilizou do monopólio do saber. Os livros eram guardados em monastérios e copiados pelos próprios monges. Os leigos não tinham grande acesso a essa fonte de saber. É desta maneira que a alquimia irá entrar na Europa, via árabes, através de membros da Igreja.

Com certeza deve ter havido também aqueles que em contato com os árabes, principalmente na Espanha, teriam tido conhecimento da arte alquímica. Alguns destes teriam se compenetrado da importância da Arte, outros queriam descobrir os seus segredos com vistas à falsificação dos metais, principalmente ouro (sol) e prata (lua), que simbolicamente, representam as colunas do Templo. Alguns buscavam na Arte meios para curar e aliviar as dores dos doentes, outros simplesmente queriam enriquecimento rápido, tornando-se charlatões.

TRADUTORES

Padres tradutores e copiadores de livros, ao descansarem de suas traduções de textos bíblicos ou textos de Platão, passaram a traduzir textos alquímicos. Um deles foi Marsilio Ficino que traduziu o Corpus Hermeticus. Gerard Cremona traduziu os Setenta Livros de Jabir, De Aluminibus et Salibus e Liber Lumini Luminum de Razes. Robert Grosseteste (1168-1253), bispo de Lincoln, foi um dos primeiros grandes estudiosos da alquimia. Ele era estudioso do platonismo de Santo Agostinho e do aristotelismo de Avicena. Sua obra foi muito importante para influenciar nomes que se destacaram no pensamento europeu como Roger Bacon. Outro grande estudioso foi Alberto Magno (1193-1280) que era grande estudioso de Aristóteles, sendo um dos primeiros a trabalhar com o filósofo grego, antes deste se tornar o "Filósofo" para os europeus. Alberto fez diversos estudos sobre a natureza, como botânica e mineralogia, tendo escrito De Mineralibus et Rebus Metallicis. Para ele, o alquimista apenas poderia imitar os metais em sua aparência externa e não modificar a essência interna, assim a essência da transmutação caberia apenas à natureza realizar. A obra de Alberto não é a de um mero compilador ou tradutor de textos, ele procurou fazer um estudo sério sobre os segredos do mundo. Sua importância deve ter sido decisiva a ponto de estimular o desenvolvimento de uma alquimia teórica na Europa. Entre algumas de suas obras estão, De alchemia, Compendium de Ortu et Metallorum Materia; há, entretanto, algumas como Secretorum Tractatus, que é considerada apócrifa.

ALQUIMISTAS EUROPEUS

ROGER BACON

Roger Bacon (1214-1292) foi um destes professores, lecionando na universidade de Paris textos da Física e Metafísica de Aristóteles. Mas Bacon era um homem religioso e acaba por entrar na Igreja. Seu amigo Guy de Folquois tornou-se o Papa Clemente IV, em 1265. Com isso Bacon conseguiu um mandato com a proteção papal para enviar, secretamente, a Roma a pesquisa que vinha desenvolvendo. Bacon remeteu a Roma cerca de três obras: a Opus Majus, a Opus Minus e a Opus Tertium, nas quais explica as suas teorias.

Para Bacon, as ciências se apresentam de maneira prática ou especulativa. A alquimia é considerada uma ciência de alto nível pois se trata de uma ciência experimental, mas há também uma alquimia especulativa que trata do estudo da geração das coisas e do mundo. NO que se refere à alquimia "experimental" Bacon estava mais preocupado com a questão da cura, dos remédios e elixires. Estas preocupações foram escritas num livro, Sanioris Medicinae. Bacon acreditava que através do aperfeiçoamento de um metal, poderia fazer o mesmo, por analogia, com o corpo humano.

Já na alquimia "especulativa", Bacon faz várias críticas a Aristóteles, descobrindo falhas no texto aristotélico. Ele também critica a ignorância dos latinos e até a falta de interesse destes pela aquisição de conhecimento sobre os mistérios da natureza. Bacon também repudia a magia, embora não tenha o menor pudor de se utilizar experimentos de feiticeiros e magos, fazendo até uma classificação detalhada desta. Ele chegou inclusive a utilizar-se da magia para descrever como os homens poderiam voar, andar sobre o mar e dirigir carros sem animais. O prestígio de Bacon chegou a transformá-lo num mago medieval.

LLUL E VILLANOVA

Um decreto do Papa XXII, em 1317, visava conter a alquimia, mas este decreto era mais contra aqueles que mais se preocupavam em inventar a verdade do que descobri-la. Tanto assim que antes de ser feito, o Papa consultou médicos, filósofos e alquimistas para aboná-lo na publicação de tal decreto. Segundo o Papa, os estudiosos de Hermes não conseguiam suster suas idéias e práticas alquímicas em debates. Além disso, a mistura de idéias místicas comprometia a fé da Igreja.

Ramon Llul (1232-1316) era desses pensadores que combinava idéias "suspeitas". Ele era catalão. Considerando-se um beato "iluminado", entrou para ordem dos franciscanos. Sua importância se deve a influência que teve mais tarde no renascimento sobre pessoas como Nicolau de Cusa, Pico Della Mirándola, Giordano Bruno e até Paracelso. Ele trabalhava com conhecimentos mágicos e ocultos. Chegou a inventar um sistema de cômputo, baseado na "arte da memória" desenvolvida pelos gregos, na qual eram estabelecidas relações entre o macro e o microcosmo, podendo responder a todas as questões do conhecimento obtido até então, Llul produziu cerca de 44 livros sobre alquimia, dentre os quais Testamentum, Ars Clavicula e De Consideratione Quintessentia. Ele não acreditava na transmutação dos metais, por achar que um metal não abandonaria a sua natureza a favor de outra.

A noção da quintessência (Éter-Akasha-Devas) foi bastante desenvolvida por Llul, chegando ele a descrever processos de sua obtenção de quase todos os tipos de materiais. O álcool seria uma substância espirituosa que produziria mais facilmente a quintessência.

Arnaldo Villanova (1250-1311) foi professor de medicina em Montpellier, médico de papas e reis, mas também apoiava reformas religiosas. Dizem que ele precedeu Paracelso na medicina popular, tendo trabalhado com a anatomia humana e feito diversas experiências com a destilação do sangue humano, provavelmente sob inspiração alquímica. Ele chegou a produzir cerca de 50 trabalhos em alquimia, entre estes há uma carta ao rei inglês, De Conservanda Luventude et Retardanda Senectude, sobre a conservação da juventude e provavelmente sobre o elixir da juventude. Em seu texto Semita Semitai ele diz: "O magistério surge através do uno, se faz do uno e compõem-se de quatro e três que são uno?.Há aí a referência aos quatro elementos (alma) e três é aquilo que o anima (o espírito). Desta sua noção de corporalidade e espiritualidade ele compôs sua teoria sobre a quintaessência, uma espécie de aqua vitae, provavelmente o álcool. Baseando-se nisso há dois livros seus Tractatus de Aquis Medicinalibus e Liber de Vinis, onde se fala da aqua ardens e aqua vitae.

PARACELSO

Theofratus Bombastus Von Hohenheim (1493-1541), dito Paracelso, é considerado o Pai da medicina hermética. Paracelso faz parte de um outro período da renascença. Ele já havia passado pelo debate entre Copérnico e Ptolomeu sobre o fato da terra ser ou não ser o centro do universo. Ele é bastante crítico, não vendo importância em Razes, Savonarola e Villanova. Mas é deste último que ele retira a sua idéia de uma quintaessência. Ele misturou e introduzio idéias para produzir novas. Ele baseava sua alquimia numa relação entre o macrocosmo (o universo) e o microcosmo (o corpo humano). Tanto assim que fez correspondências entre as constelações e os diferentes órgãos do corpo humano, sendo o primeiro a falar de uma "astrologia terrestre".

Paracelso retira de seu pensamento ou reduz a importância dos quatro elementos. Ele prefere trabalhar em tríades: enxofre, mercúrio e sal; Lliaster, Vulcanus e Archeus. Esta última tríade refere-se à construção do mundo: Deus não teria feito as coisas em sua forma final tal como as conhecemos, assim Vulcanus lhes dá uma forma geral, cabendo a Archeus a forma específica ou final. Para Paracelso a doença seria um mal funcionamento de Archeus e não um desbalanço geral do organismo. Seu livro sobre a Anatomia Archei trata da anatomia da vida, que é a anatomia do mundo, pois tudo é vivo. Para Paracelso, o médico deveria ser uma espécie de alquimista que entenderia e localizaria os problemas da química interior. Para ele, "iguais curam iguais". A grande importância de Paracelso está no fato dele ter combinado todas as "artes" para produzir a sua obra, que ele considera suficiente e absoluta, tanto que queria expulsar todas as demais consideradas supérfluas.

BIBLIOGRAFIA

Livros:

- Vanin, José Atílio "Alquimistas e químicos: o passado, o presente e o futuro" ? Editora Moderna ? São Paulo, 1994

- Hudson, John "The History of Chemistry" - Editora Chapman & Hall - New York

- Grande enciclopédia Delta Larousse - Volume I

Sites:

A Alquimia e os Verdadeiros Alquimistas :www.alquimiadigital.cjb.net

Química e Alquimia: http://www.netium.com.br/mercuryo/

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